The pursuit of happiness

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Devaneios teológicos: olhos do amor

Estamos diante do livro mais aclamado de todos os tempos e lemos como se fosse um gibizinho descartável. Nos enchemos de pressupostos e descartamos a singuralidade de cada personagem que escreveu e participou das tramas ali narradas.

Minha angústia ao escrever esse texto é que as pessoas tiram conclusões teológicas das narrativas bíblicas e fabricam um Deus com a qual querem se relacional. Como exemplo, lembro de há pouco meses haver uma famigerada conversa sobre homens de bermuda na reunião pública. Famigera, batida mas não resolvida (pelo menos na minha comunidade) questão. O argumento prevalecente foi que se diante de um juiz comparecemos totalmente arrumados, por que não na "Casa do Juiz"?

Fiquei revoltado porque ninguém citou as pobres coitadas pessoas que não vão a um encontro comunitário pois não tem uma roupa. Isso já seria motivo suficiente para abandonar essa figura do Deus juiz construída numa época em que tal profssião era bela. Aliás, Deus era advogado e Médico. Talvez um Engenheiro Naval que ordenou e especificou a construção da Arca, mas não Gari que limpa nosso coração, Servente de Água para os que tem sede por uma nova vida. De novo, não se trata de uma conversinha sobre usos e costumes, mas como essas pequenas coisas revelam nosso olhar das profissões de sucesso sobre Deus.

Depois que passei pela dolorosa depressão (aliás, como bipolar devo sempre me cuidar), vi que o consultório médico nada mais é um lugar que vou para me curar e que roupas bonitas eram apenas estresse para uma vida tão atribulada. Não visto belas roupas e me encho de perfurme pois não é um encontro social de fato, mas entre duas pessoas com interesses bem definidos: o que cura e recebe por isso e o que necessita da cura e paga por isso. Isso não descarta a amizade entre médico e paciente, mas isso só reforça minha vontade de ir de chinelo e bermuda para o consultório.

Mas meu desejo é o de voltar sobre a visão sobre Deus. As lentes daquela senhora estão (des)ajustadas para um Deus Juiz, aliás, nem o Deus Juiz da Bíblia pode ser comparado a esse Deus. Perguntei-me: como Deus gostaria de ser lido? Qual a perspectiva sobre sua pessoa que Ele achava crucial? O Deus é amor foi minha resposta. Não se trata de trocar as lentes para ler a Bíblia ou enxergar por um novo prisma. Como algo de ler no Paulo Brabo, é Metanoia, termo traduzido por conversão, mudança radical de vida. Tem a ver com mudança de olhos, é muito mais dolorido que apenas trocar lentes. É como se o próprio Deus oferecesse novos olhos para o lermos através da Bíblia.




Essa mesma diz que se nossos olhos forem bons, todo nosso corpo será luminoso. Então sinto que estou chegando perto (ou quente, como na brincadeira). Ao ler a Bíblia sob os olhos do Amor, vejo a lágrima de Deus. Vejo que as pessoas atribuem a ele coisas que não lhe é devida, catástrofes da qual ele não é culpado e das quais eles sofre junto pois decidiu, ao meu ver, conceder liberdade ao homem e intervir apenas em casos cruciais em que o ser humano aniquilaria o ser humano.

Posso parecer novo (25) para ousar-me nesse campo da teologia em que nem canudo eu tenho, mas experimentei a pior dor emocional possível. Tive de depressão bipolar, ou seja, ao melhorar recaí pois precisava de estabilizantes de humor. Ainda tive duas crises maníacas. Essas crises são marcadas pela agitação corporal, o desejo de fazer coisas rápidas e descompasso entre mente e corpo. Entrei em convulsão, pensei de ter morrido mas voltei para escrever.

O melhor tratamento não foi acusar Deus, sendo que me deu muito vontade. Tem sido seguir o tratamento médico-psicoterápico e ler com os olhos do amor a Deus. Quando o leio como amor, não jogo um mundo em cima dele. Isso seria nada para ele. Somente quando abri meu coração e chorei copiosamente minha miséria, desabafando todos os meus sentimentos, angústias e medos é que comecei a experimentar o poder do Vazio que cura. A partir desse Vazio, algo me preencheu, acalentou-me e fui envolvido pela esperança. O Deus Juiz, no entanto, olharia para minha miséria e diria: tem pecado. O Deus amor pode dizer o que for, mas seu foca está na cura e não na condenação.



Escreverei sobre esse "a perspectiva do amor" na interpretação bíblica da doutrina salvação e do pecado com mais detalhes. Espero oferecer algo menos estático que as tradicionais teologias. Quero ler a Bíblia com o jornal do dia na mão sem fumar uns charutinhos (Karl Barth), apesar de ter curiosidade. Aliás, jornal está meio ultrapassado. Lerei a bíblia com blogs, sites, noticiários, wikipedia, periódicos de ciência, etc. na outra mão. Prometo aqui me esforçar para não ser um fanáticos, mais um fundador de "ismo", apenas oferecer meus olhos para meus leitores.

Abraços,
Thiago PX

Nenhum comentário: