The pursuit of happiness

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Aqui jazz um sonhador

Meio adulto com coração de criança. Choro até quando não tenho lágrimas. Choro minha falta de lágrimas. Choro minha pressa. Choro meu materialismo. Nostagicalmente, estive em Aracaju. Já são 10 anos longe da minha terra. Já morei em 4 cidades diferentes, e Aracaju que me viu crescer hoje também me chama de PX. Sempre me perguntam por que eu saí de um lugar tão lindo e limpo. Momento, precisava, todos da família estavam num mau momento. E se... tivesse ficado? Bobagem tentar imaginar. Prefiro apenas continuar...

Aracaju viu meus dentes tortos e me amou. Viu as manchas escuras da alergia na minha pele e me aceitou. Viu minha pressa e não correu. Viu minhas lágrimas e me ofereceu o mar. Fui, mas uma vez, caminhar, em busca de colegas que sempre moraram na mesma casa e me entristeci a não vê-los. Ousado, prossegui e destemidamente pedi para entrar no meu antigo condomínio. Lembrei-me que antes mesmo de morar lá, já usufruia da quadra e da piscina, águas que não eram suficientes para conter minha emoção de moleque.

Lembrei-me das primeiras paixões, essas sofridas calado como quem contempla obras de arte. O caminho da bicicleta, o prédio imponente que me abrigou. Ao sair, fui brindado com promoções de livros: Crime e Castigo (coadjuvante) e Meninos de Kichute (esse sim, o livro). Meu Deus, eu usei Kichute, apesar de não poder ser considerado um legítimo menino de kichute. Jogava bola num dos campos do Parque da Sementeira e amarrava várias vezes o cadarço no próprio tênis. Mas eu usei Merthiolate que ardia, e ardia porque matava os micróbios, os grandes bandidos do mundo. Se não fossem eles, não precisava chorar com o ardor do Merthiolate.

Lembrei dos meus sonhos meninos. Ser motorista. Dirigia cadernos durante a aula. Fui desistindo das coisas de menino, e sonhei processamento de dados. Até já estava na escola técnica. Quem diria que eu sairia de minha linda terrinha. Hoje quase mestre em Computação, mas os sonhos voltaram a ser crianças. Sonhos de ser artista, daqueles que leva um prato de beleza com esperança para o público. As lágrimas esboçam sair, respiro e percebo que estou vivo. Dou graças a Deus por poder sonhar em nova cor. Sinto-me feliz por poder sonhar.

Que meu sonho ajude outros a buscarem seus sonhos. Não se prenda ao dinheiro pois ele naturalmente já é uma prisão. Trate com carinho dos sonhos que dinheiro não vai faltar. Mais um ano e me pergunto o que tenho me transformado. Não é o que tenho, mas o que sou me dá ânimo para seguir e enfrentar minhas dores.

Abraços saudosos,
Thiago PX

Da Palavra à Poesia



Palavras encaixadas na liturgia desse dia
Símbolos de pausa, suspense que traz a dúvida
Arte escrita imita a vida, arte vivida
Me leva para passear, olhos fechados para qualquer lugar

Raro e distante, onde a beleza traça seus ideais
Doloroso, irritante, homens e guerras banais
Claro, cintilante, ilusões de paraísos fiscais
E será só isso? Não há nada melhor?

A poesia nasce na janela da espera incerta, intervalos da vida
Das manias-euforias aos vales-depressões, agonia
Espero apenas a pena molhada de sangue e suór escrever "Amor" na minha face
Antes que tudo se acabe, antes que tudo seja simplesmente pó

Thiago PX

terça-feira, 29 de junho de 2010

Da nossa falta de hora!


Como era mesmo aquela musiquinha... "Somos jovens num mundo velho a pregar NOVOS ideais". Hora, faça-me o favor. Nosso anciãos jubilavam com essa cantiga, e ainda há jovens que estufam seus peitos para cantar isso. O desfecho da cantiga é "...importa que preguemos a salvação."

Salvação de quê? Do diabo? Da morte? Dos vícios? E dos clichês? E da miséria? E da falta de esperança? Estou numa pilha de nervos pois senti-me tocado no espetáculo Hora de nossa hora, um monólogo sobre o João, o que não é da Bíblia.

João, menino brasileiro esperto, idéias correm ligeiras... O idealizador da peça Eduardo Okamoto revela:


Quando pensava em treinar malabares, ele evitava usar crack. Segundo ele o consumo da droga não permitiria a concentração necessária para o treino. Ele ainda disse que se queria treinar malabares só usava maconha. Finalmente, percebia que tinha nos malabares uma arma poderosa contra o vício da droga e que chegava a imaginar que eu treinava a seu lado a fim e prosseguir por mais tempo sem uso do crack. Na falta de bolinhas, João inventava malabares com pedras. Ressignificava o local de uso de droga. Sozinho, João imaginava presenças. Na falta, reinventava-se


João é da Candelária. Convivia com a violência e banquetes do tipo ensopado de cabeça de galinha. João lembrava de canções belas como "eu prefiro estar no meio da congregação onde flui [...] ah, como é bom viver em comunhão...". Ao ouvir essa música do João, fiquei encucado, o estômago revirou. Procurei caneta, ia blogar off-line, mas por sorte não achei. Era tempo apenas de sentir o remédio amargo.

Ao final do espetáculo perguntei ao Eduardo como ele soube daquela música. Ele disse que ouviu numa comunidade espírita, mesmo sabendo que a música era de um cantor evangélico e que em sua família havia outros evangélicos. Eu falei que a conhecia mas nunca refleti sobre ela.

No final de tudo, não importa onde eu PREFIRO estar, mas sim onde eu PRECISO estar. Que de alguma forma eu esteja com João, José, Maria, e tantos outros que precisam de Jesus, o que, como João (o Alexandre) diz, se envolve e resolve. Apenas assim, deixaremos de ser forasteiros onde não devíamos e velhos no mundo com necessidades jovem.

Abraços,
Thiago PX

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Eu, eu mesmo e a bipolaridade


Você sabia que o Jim Carrey, astro do filme "Eu, eu mesmo e Irene" é bipolar? Aliás, ele deve ter se sentido muito a vontade no papel e nada melhor para descrever essa situação que a imagem à esquerda.

Assim como a depressão, creio que a bipolaridade é muito desconhecida e, por isso, tantos bipolares são alvos de preconceitos. Sendo que minha proposta nesse blog é pensar alto, faço audível que não sou um apenas. Não estou falando do impostor que vive em mim, aquele outro "eu" que finge ser bonzinho. Estou dizendo simplesmente que tenho uma doença mental que, se não tratada, torna-me refém de crises depressivas ou crises maníacas, aquelas em que o mundo fica pequeno.

A descoberta é recente, data de poucos meses. Já relatei sobre a depressão, e aliás, nem sabia que se tratava de bipolaridade. Mas uma crise eufórica de verdade fui ter no Rio em que senti que meu corpo ligava e desligava. Desesperado, procurei ajuda no aeroporto. Após ser bombardeado de perguntas, sumi. Quando retomei a consciência, a médica chamou-me de Michel. Esse sim, um baita impostor. Foi uma crise convulsiva e graças a Deus que não foi em uma igreja. Eles tentariam exorcizar o pobre Michel que apareceu lá devido a essa psicose.

Já bati em alguns livros para ler, mas ainda não tomei coragem. A sugestão me parece perigosa. Também não quero ficar me gloriando das loucuras, nem utilizar disso para me promover ou me esconder atrás de personagens. Também não quero "me entregar como um fraco", frase do João Alexandre. Quero minimizar o preconceito contra essa doença, assumir minha fraqueza e estar com Deus nela. Quero mostrar que a estabilização é bem possível se, com fé, seguirmos o tratamento sem bancar o herói.
Agradeço a todos que já manifestaram seu apoio. Agradeço e reconheço que preciso de vocês. Como é bom ter amigos para nos botar para cima e para baixo quando precisamos também.

Para concluir, deixo uma música bipolar no Zeca Baleiro. Vocês perceberam, se forem atentos, que os bipolares estão em todos os lugares. Também, se aprenderem a ler nosso mundo, verão que nossa sociedade é bipolar. Deixo para tratar disso em outro texto.