The pursuit of happiness

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Hoje conversei com um gringo...

Foz do Iguaçu, 29 de Outubro de 2018. Um dia após a eleição presidencial. Um dia antes, ruas tomadas de verde e amarelo: como eu um brasileiro não me senti representado? Como não compartilhar da mesma euforia?

Hoje conversei com um gringo num congresso sobre Computação. Desenferrujei meu inglês conversando com um holandês que atualmente reside nos EUA para estudos. Sem mais nem menos, no Paraná dessa nossa Curitiba, percebi-me usando termos como "Carwash operation", "corruption", "Far right politician", etc. Como é difícil desabafar em outra língua...

Horas depois, o reencontrei. Desculpei-me pela melancolia, sobre a negatividade da minha fala e ele entendeu. Passamos a tratar de Computação e dos trabalhos que iríamos apresentar. De alguma forma, a educação nos colocou ali juntos, um representante do primeiro mundo com alguém do terceiro mundo para discutir tecnologia e ciência.

Passado um certo tempo, sumarizei o porquês da minha melancolia. Percebi que não ouvi no segundo turno ninguém que me representasse:

1) Como cristão;
2) Como educador;
3) Como pesquisador.

Sem pretensões, falo por mim. Não vi beleza, integridade, inteligência, racionalidade ou inspiração que me fizesse sentir diferente. Pensei em tirar muitas fotos do evento, exaltar algum sucesso pessoal. Mas hoje eu só conversei com um gringo...


sábado, 6 de outubro de 2018

O odioso dever

Eu disse no capítulo anterior que a castidade era a menos popular das virtudes cristãs. Mas não estou tão certo disso. Acredito que haja uma virtude ainda menos popular, expressa na regra cristã "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". Porque, na moral cristã, "amar o próximo" inclui o "amar o inimigo", o que nos impinge o odioso dever de perdoar nossos inimigos. 
- C. S. Lewis (Cap. O Perdão, pág. 152, Cristianimo Puro e Simples)
"Odioso dever". É exatamente isso que penso a respeito sobre a tarefa mais difícil para um ser humano: amar seu inimigo. Se amar pessoas amáveis já é um desafio, o que dizer sobre amar inimigos?

Penso que Lewis não romantiza o amor quando escreve sobre perdão. Primeiro, ele assume que temos amor próprio. Isso significa, dentre outras coisas, que queremos o nosso próprio bem e que temos certa facilidade para a autoindulgência, o que inclui o perdão e a aceitação próprios. Amar ao próximo como a si mesmo é, então, estender a outros esse tratamento que nos damos todos os dias.

Mas o problema não está resolvido. Como amar alguém que não deseja nosso amor? Recentemente, tive um prejuízo material (coisas do trânsito) e a pessoa que o causou não parece muito disposta em resolvê-lo. O que seria amar essa pessoa? Alguns talvez diriam: "deixe isso para lá e siga sua vida". Mas, se ao fazer isso, eu o "mato" em minha mente, estou amando? Talvez outros minimizem o ocorrido e o comparariam com coisas bem mais terríveis. Lewis imagina uma plateia perguntando "E, se você fosse judeu ou polonês, perdoaria a Gestapo?". Ele não diz o que faria. Quanto a mim, nem consegui ainda passar do primeiro "nível", que é o prejuízo material...

Sendo bem honesto, chego à conclusão que não sei amar. Posso em alguns momentos ter uma atitude positiva, relevar "encrencas", apaziguar e, inclusive, perdoar. Mas amar plenamente, não. É justamente por isso que fui a Cristo. Não porque eu O amava, e, por O amar tanto, era capaz de amar qualquer um. Não porque os seguidores de Cristo são plenamente amáveis ou coerentes. Humilhado, vou a Cristo pela para ser salvo da minha incapacidade de amar, tanto ao próximo como a Ele.

De repente, vejo que não estou só. Gente de toda a parte do mundo, "boas" e "más", percebem que não conseguem amar totalmente o tempo todo. Pecado! Palavra detestável, só não mais que aquilo que ela representa. Trata-se de um amor desenfreado por si mesmo que até desumaniza. Definitivamente, a salvação de Cristo precisa ter efeito todos os dias da nossa vida enquanto vivermos.

Passamos por um momento tenso e creio que o fim não está tão claro. Esse texto não é nenhum recado aos que afirmam "bandido bom é bandido morto". Não tem nada a ver com isso. Pessoas relatam amizades desfeitas e desavenças familiares, e tudo isso em nome do "Eu", o pior de todos os bandidos. Não se trata de meras divergências, mas da divisão que nos coloca na posição de inimigos uns dos outros. Para o cristão não há opção: é hora do "odioso dever".