The pursuit of happiness

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Minha primeira conversa sobre a depressão

Ame o que você faz. Ame quem está perto de você, ame o que você come, ame o que você veste, ame o que você é. AME! Tempus fugit.

Rubem Alves

Você ama da profissão que exerce? E os que te cercam, são fáceis de amar? A comida já foi mais sofisticada? Falta dinheiro para comprar aquele roupa de griffe? E o tempo? Sua juventude, sua dores, suas (falta de) esperança?

Às vezes podemos viver porções da felicidade e do amor que o Rubem Alves sugere, mas dificilmente todas simultanemanete. E em caso de depressão, acho que nenhuma dessas.

Ao falar em depressão descrevo quatro grupos básicos: os que sofrem, os que convivem com alguém que sofre, os que nunca souberam o que é isso ,e os que estão à beira da depressão e não sabem. Enquadro-me no grupo dos que sofrem e convivem com quem sofre.

Sob meu estado, relato que não sentia sabor na comida (que aliás nem tinha vontade de comer), não conseguia dormir, "acordava" muito mais cansado do que quando tinha deitado, sentia medo de sair de casa, falar exauria o resto de força em mim, paradoxalmente não queria estar só mas não a mínima paciência para os amigos e sentia desejos suicidas, mas no fundo não queria morrer e tinha medo daqueles que cuidavam de mim morressem . Não via futuro e sentia que todos meus anos investidos na minha profissão foram um fiasco.

O milagre era que em meio a isso tudo, não estava sozinho mesmo que me sentisse assim. Apesar do aparente silêncio de Deus, seu cuidado estava sobre mim. Ele envia ANJOS [1] como a família, professores, amigos (incluindo os que conheci nessa fase), uma psicóloga extraordinária (Carla Abdo) e um amigo-ex-colega-de-república-psiquiatra (Ismael Sobrinho). Na hora da crise não enxergamos nada isso, parece caso encerrado, não há esperança. Mas podemos trazer a memória o que pode dar esperança e saber que:

1) Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou ANGÚSTIA, ... [2]

2) Não andeis ansiosos basta a cada dia o seu próprio mal. [3]

3) Deus disse: "A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é muito mais forte quando você está fraco." [4]

Além de viver melhor, voltamos a ter menos medo e, mesmo sabendo que o sofrimento virá de novo, também ainda viveremos outras alegrias.

Viva, viva intensamente, ame o belo (parece que todo poeta fala disso), vai atrás de boa música,
viva em comunhão, e, como o Augusto Cury fala:

"Hoje, vencer não é deixar de cometer erros e falhas, mas reconhecer nossos limites e
corrigir nossas rotas.
"

Se você tem se frustrado por ver pessoas que aos seus olhos parecem de sucesso e isso te faz
pequeno, lembre-se dessa frase da Regina Brett (90):

"Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles."

[1]
[2] Trecho da carta de Paulo aos Romanos (Capítulo 8)
[3] Trecho do Evangelho de Mateus (Capítulo 4)
[3] Segunda carta de Paulo Coríntios (Capítulo 12 verso 9)

domingo, 1 de março de 2009

Coincidências (parte 2): palavras na areia

Bom, este texto é parte de uma série iniciada em http://thiagopx.blogspot.com/2008/09/coincidncias-parte-1-o-poder.html, que narra coincidências do meu cotidiano, geralmente algo que ouvi falar, e que de alguma forma me trouxe algum pensamento que faço questão de tornar audível.

No cenário em questão, Jesus está a ensinar um grupo de pessoas, curiosos e interessados¹. De súbito, religiosos entram em cena arrastando uma mulher flagrada em adultério. Eles questionam Jesus sobre o que fazer com a mulher. A resposta é das mais célebres: "aquele que nunca errou (pecou) que atire a primeira pedra". O detalhe da história que prende minha atenção é que, antes da resposta, Jesus estava rabiscando no chão de areia. Especulações... O que estaria escrevendo Jesus? Ouvi em janeiro que provavelmente seria a palavra GRAÇA, que significa favor, bem imerecido. Em fevereiro um orador afirmou que possivelmente se tratava de uma lista com os nomes daqueles religiosos e dos erros cometidos por eles.

Em um breve exercício de imaginação, tentei reconstruir mentalmente a cena. Seriam palavras escritas na areia ou simples rabiscos aleatórios? Imaginei... Imaginei e 'vi' círculos rabiscados, e a cada novo círculo, o traço se tornando mais forte. Era como se o Mestre dissesse: 'é tudo sempre igual' ou 'vocês não aprendem'. Após isso, o desenho de uma cruz, e em sua mente a mulher e uma contudente afirmação: 'eu estou aqui por você, eu darei minha vida por você e eu voltarei a viver por você'.

Não sei o Ele escreveu ali, mas o que mais importa é que esse Homem ainda é capaz de escrever novas histórias de vidas, de transformar rabiscos e rascunhos em arte final.

ThiagoPX

¹Evangelho de João, capítulo 8, versos 1 a 11.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O tesouro escondido

Há um bom tempo penso sobre a necessidade do ser humano de ser aceito, de pertencer a algo ou alguém, de ter sua identidade associada a qualquer outra coisa que seja importante aos seus olhos. Ao mesmo tempo que acho saudável pertencer a uma boa família e se identificar com os amigos, percebo como é vazio viver o outro extremo, de viver para ser reconhecido e admirado. O pior é quando constato que esse extremo às vezes faz parte de mim. Como gostaria de dizer que sou completamente despreocupado com minha imagem! Por mais desapegado que eu pareça ser da opinião alheia, sinto que isso ainda não se deu por completo.

É relativamente fácil para mim admitir que não sou perfeito, mas um sacrifício expôr uma imperfeição. Tenho a impressão de que ao fazer isso, torno-me pequeno, fraco, um exemplo a ser evitado em uma sociedade já carente de exemplos. Pensando alto, corro o risco de ser ouvido... Mas, ironicamente, percebo que essa prática pode ser um desafio ao próprio desejo de ser reconhecido como bom, algo um tanto terapêutico, uma confissão ou um pedido de compreensão. Digo que 'pode ser' porque sempre existe a tentação de expôr falhas não muito comprometedoras apenas pelo desejo de ser visto como humilde, uma incoerência que não se justifica.

Mas eu sou enfático em dizer que não sou desapegado à minha reputação, que às vezes supervalorizo a opinião alheia, mesmo consciente de que não é o melhor para mim. Seria isso apenas mais uma constatação infeliz do meu caráter se não existisse 'o tesouro escondido'. Em uma de suas histórias, Jesus Cristo fala que o Reino de Deus é como um tesouro escondido no campo, que um homem ao achá-lo, vende tudo o que tem para comprar esse campo¹. Talvez esse terreno não tivesse uma árvore sequer, nada aparentemente rentável, mas o que era mais importante nele era o que estava oculto! O homem vende tudo o que tem, coisas que significavam muito para sua imagem em troca do campo que só ele tinha noção do valor. Quando dirijo meu olhar para esse tipo de ensinamento percebo que quando busco o Reino de Deus meus valores mudam. Sinto que não preciso viver em busca da aprovação das pessoas, que não preciso ter amigos por interesse, que a reputação não é nada sem caráter, e que realização pessoal é desprezível se comparada à amizade de Deus. Não há lugar para complexo de inferioridade, nem para o sentimento de superioridade. A igualdade é uma das maiores expressões nos relacionamentos.

Concluo que se permaneço com minhas falhas, é porque ainda tenho muito que aprender sobre o Reino de Deus, sobre o próprio Deus. É porque nem sempre ando com Ele da forma como Ele gostaria. Ainda não sou totalmente o que Ele queria que eu fosse, mas me alegro em saber que Ele tem me transformado.

¹Evangelho de Mateus, capítulo 13, versos 44 a 46.

Thiago PX